Na Sala do Veado, do Museu Nacional de História Natural está patente a exposição de Rui Mourão.
Esta exposição “tem como ponto de partida uma ruptura, uma impossibilidade. Parte de uma ideia que nunca chegou a ser realizada nos moldes iniciais – a dois – mas que posteriormente se tornou outra coisa, diferente, nova – a um. Nesse sentido, toma como eixo central esse processo de transição de um estado para outro."
Esta exposição assume peremptoriamente que fala de afectos, mas não fala só de afectos. A partir da apropriação conceptual destes, pretende-se igualmente abordar situações e contextos mais alargados de âmbito social, político, económico, cultural e histórico. Em particular, procura-se criar um diálogo com a envolvente do jardim botânico, tomando o conceito e a materialização de jardim, para se reflectir sobre a necessidade humana de construir quer oposições, quer ligações entre civilização e natureza, razão e emoção, o eu e o outro. Pretende-se desta forma cruzar experiências, questões e memórias simultaneamente pessoais e colectivas.
Nesse sentido, Rui Mourão concebe trabalho artístico a partir de experiências pessoais e trabalhos de ocasião por onde vai passando por motivos de ordem financeira. Essas criações são feitas no local e horário laboral. Subvertendo esse campo da necessidade, utilidade e funcionalidade, está também a criar uma alternativa utópica de conquista de um espaço de liberdade. Questiona-se assim as actuais políticas económicas neo-liberais (e a precária situação dos recibos verdes por exemplo) e cria-se narrativas e alusões metafóricas com outras possíveis leituras, nomeadamente ao nível de identidades e minorias sexuais.